Série sobre Tim Maia mostra o talento, a vida sexual e a ‘cornologia’ do pai do soul

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Dividida em três episódios, a série traz o próprio Tim narrando sua trajetória, quase sempre num tom bem-humorado, cheio de piadas a contar sobre suas dores e conquistas.


Por Folhapress Publicado 03/10/2022
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Reprodução: Divulgação

Autor de uma coleção de sucessos que agitam karaokês de norte a sul do Brasil, Tim Maia dividia as suas canções em dois grupos, as de “melar-cueca” e as de “esquentar-sovaco”.


Esse jeitão cômico de definir sua obra sintetiza bem a maneira como ele surge na nova série documental do Globoplay, “Vale Tudo com Tim Maia”, que estreia nesta quarta-feira, data em que o artista faria 80 anos.


Dividida em três episódios, a série traz o próprio Tim narrando sua trajetória, quase sempre num tom bem-humorado, cheio de piadas a contar sobre suas dores e conquistas.


Trechos de entrevistas antigas e vídeos inéditos do cantor trazem relatos dele sobre a efêmera banda Sputniks -que ele integrou ao lado de Roberto Carlos e Erasmo Carlos-, os furtos de comida que cometeu nos Estados Unidos, a vez em que foi deportado de lá, sua vida sexual e seu dom para a “cornologia”, termo que usava para falar das vezes em que foi traído.


Com direção de Nelson Motta e Renato Terra, este último colunista deste jornal, a série mostra ainda como Tim Maia se tornou o pai do soul brasileiro e traz detalhes da composição de alguns dos seus maiores hits, que explodiram na década de 1970, mesclando R&B, funk, soul e MPB.

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Nessa toada, há também comentários de Tim sobre o preconceito que teria sofrido por ir na contramão da bossa nova, numa estética agitada e suingada, passando longe dos violões de calmaria e vocais suaves do movimento.


“Eu fui mais discriminado pela rapaziada jovem do que pelos ‘bossanoveiros’. Eles aceitavam”, diz ele, numa entrevista que deu a Branco Mello, dos Titãs.


Outros episódios de preconceito que Tim teria sofrido também são mencionados na série. Segundo o cantor, por ser negro e gordo, ele pouco atraía a atenção das mulheres, história bem diferente da vivida pelos seus amigos brancos e magros como Roberto Carlos e Erasmo Carlos, conta ele em entrevistas.


A letra dramática de “Azul da Cor do Mar”, aliás, teria surgido da inveja de Tim diante do entra e sai de mulheres nos quartos de seus colegas. “Eu não comia ninguém”, dizia o músico, rindo com lamento.


“Vale Tudo” mostra ainda como Tim foi da obsessão pela cultura racional -em eventos místicos que cultuavam livros da coleção “Universo em Desencanto”- ao desapego completo por religiosidades.


Um dos temas mais explorados pelos episódios é a fama do cantor de não comparecer a shows e programas de TV -e várias vezes, sem aviso prévio. Ora ele argumentava cansaço, ora que não estava sendo bem pago por isso, mas sempre era criticado, chegando até mesmo a ser punido pela TV Globo, que retirou o músico da trilha de uma novela após ele dar bolo em Faustão.

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Parte sutil da relação de Tim com drogas também surge na série. Facetas mais controversas do cantor, no entanto, ganham pouco destaque e algumas ficam de fora. Há somente um curto trecho sobre os muitos processos trabalhistas que recebeu durante a carreira. A acusação de ter agredido Janaína, mulher que namorou, nem sequer é mencionada.


“O Tim não sai da série com uma imagem heroica. Ele é o herói da série”, diz Motta, que é jornalista, produtor musical e autor da biografia “Vale Tudo – O Som e a Fúria de Tim Maia”. “Quem quiser saber mais da vida dele, das complicações judiciais e das brigas tem outros meios. Não teria graça ver ele falando de 105 processos.”


Segundo Terra, a série é quase uma autobiografia, já que exibe só falas do músico e, por isso, não faria sentido dar voz a outras pessoas.


“A primeira coisa que eu e o Motta decidimos é que teríamos só o Tim Maia, porque queríamos provocar uma espécie de ‘experiência Maia'”, diz ele. “A gente não usa como prioridade a informação. Até falamos, no começo da série, que quem quiser saber mais detalhes pode ler a biografia escrita pelo Motta, ou falar com o síndico.”


Ele diz que a proposta é que o espectador se sinta num show do Tim Maia ou numa discoteca dos anos 1970 e afaste as cadeiras da sala para dançar toda vez que surgirem na tela cenas de apresentações do músico.

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“Se a gente chega em qualquer canto do Brasil e canta o verso ‘quando o inverno chegar’, com certeza tem alguém para completar com ‘eu quero estar junto a ti'”, diz. “Tim é um fenômeno. Morreu em 1998 e continua a fazer sucesso em todas as faixas etárias e classes sociais do país.”

VALE TUDO COM TIM MAIA

Quando: A partir do dia 28 de setembro
Onde: Globoplay
Direção: Nelson Motta e Renato Terra

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